Amazônia: história, conflitos e memória

Abstract

Com mais esta coletânea de artigos e ensaios reunidos sob a forma de livro, o Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, o PPGICH da Universidade do Estado do Amazonas, reafirma a natureza e o sentido interdisciplinar que estimula seus autores ao exercício de desenvolver suas temáticas, entrelaçando distintas áreas de conhecimento, manejando diferentes abordagens metodológicas e epistemológicas. Ao escolhermos o título, tínhamos em mente a estreita relação existente entre a história da região amazônica, cronicamente marcada por conflitos de diferentes naturezas, indo desde as disputas territoriais ao longo de todo o período colonial com os países com os quais faz fronteiras e se estendendo até o presente, onde estão em causa os conflitos inerentes aos processos decorrentes do colonialismo interno. O colonialismo interno se materializa em uma ampla variedade de processos, que se propagam a partir da permanente e histórica redução das terras indígenas e dos decorrentes processos genocidas e de deslocamento das fronteiras geográficas e culturais dos povos indígenas em seus diferentes graus de contato e convivência com a população brasileira. A Amazônia, sobretudo a partir da implantação crescente dos cursos de pós-graduação das universidades públicas – federais e estaduais – vem desenvolvendo de forma sistemática estudos e pesquisas inspirados nas mais distintas abordagens teóricas que circulam de modo consistente no horizonte desses cursos, realizando uma verdadeira revolução no âmbito da historiografia até então produzida por aqui. Dito de outra forma, o que percebemos nesses estudos e pesquisas, é que seus autores têm sido motivados a promoverem uma revisão radical de seus fundamentos epistemológicos que alcançam, desde a história pré-colombiana desta parte da América do Sul, a etno-história dos povos indígenas e seus modestos avanços, até a história Amazônia: História, Conflitos e Memória contemporânea na qual a presença dos povos indígenas vem igualmente ampliando sua significação. De outra parte, a emergência de novos estudos arqueológicos vem testemunhando que não há vazios demográficos na Amazônia ao longo de sua ampla rede fluvial e que os vestígios que vem sendo encontrados e interpretados apontam para a existência de populações a mais de 10.000 anos atrás. De igual modo, a recuperação de suas culturas no âmbito de sua consistência imaterial vem fornecendo evidências de uma grande variedade de tradições orais que constituem manifestações de sua história ainda por ser desvendada e reconhecida. As provas mais nítidas desses processos de oralidade e de imaterialidade que vem ganhando dimensão escrita e audiovisual é a crescente produção de obras de autores indígenas, muitas das quais também se expressando através das artes plásticas e visuais.