O “gênero feminino” segundo dois discursos da Medeia, de Eurípedes

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Data

2019-01-21

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Universidade do Estado do Amazonas

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No primeiro discurso selecionado da peça de Eurípedes, situado entre os versos 213 e 266, é possível observar a protagonista, sob o domínio de grande fúria (263-266), enumerar uma série de imposições e injustiças sofridas pelas mulheres (232-241). Neste contexto relatado por Medeia, só resta às mulheres servirem aos homens, seja no leito, seja nos afazeres do dia a dia. Não obstante, a “revolucionária” heroína, enfatiza a força e resistência da mulher (230-231) e prenuncia que, de sua parte, há o desejo de fazer justiça com as próprias mãos e se vingar do marido que a traiu (259-263). No segundo discurso, situado entre os versos 869 e 905, assistimos a atuação de Medeia fingindo ter mudado de opinião e aceitando as imposições de Jasão. Trata-se de um discurso oposto ao anterior: Medeia não apenas se sujeita a dividir o leito de Jasão com sua nova “Ninfa” (888), como afirma que as mulheres são pueris (889-890). Medeia fingiu ser uma mulher submissa às imposições sociais e masculinas para se vingar de seu marido, sabemos, na verdade, pelo desenrolar da peça, que ela não mudou de opinião em relação ao discurso anterior. Ainda que a tragédia, enquanto obra artistica e literária, não possibilite que nos apropriemos do conteúdo expresso pelos personagens de maneira literal ou realista (OLIVEIRA, 2006, p. 23), o que se pode observar nesses dois discursos de Medeia é um suposto panorama do papel social que a mulher ateniense desempenhava no contexto cultural e social retratado por Eurípedes, tratam-se de comentários verossímeis do que muito provavelmente era imposto às mulheres pela sociedade grega até o Período Clássico, afinal, “Eurípides está em sintonia com as condições geradas pela ambiguidade de seu tempo e escreve suas tragédias baseado nesses fatos” (2006, p. 175).

Palavras-chave

Gênero - Feminino, sociedade ateniense, Eurípides, Medeia

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